"Se a música é o alimento do amor não parem de tocar. Dêem-me música em excesso; tanta que, depois de saciar, mate de náusea o apetite."
William Shakespeare

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Os Brasileiros Que Não Vimos... Hoje: Tania Maria

Salve salve! Finalmente o novo quadro está aparecendo por aqui. Falar de músicos brasileiros é uma tarefa que apresenta certa dualidade, pelo fato de nossa cultura musical e artística ser tão variada e rica, não fica dificil encontrar nomes dos quais falar. No entanto o segundo fator dessa dicotomia não é tão simples assim. Escolher um nome para falar requer muita precisão pois a variedade musical torna a escolha bem difícil. Mas como a ideia é falar de músicos brasileiros não muito conhecidos pela grande maioria das pessoas daqui, pensei em alguns ícones e escolhi um deles pra começar bem, muito bem: Tania Maria.

De pai metalúrgico, Tania Maria Correia nasceu no nordeste do país, em São Luís, Maranhão. Cantora, pianista, compositora, iniciou na música ainda criança começando seus estudos de piano aos 7 anos. Seu  pai era  músico, guitarrista, e foi a principal influência para que a pequena Tania iniciasse seus estudos. Na adolescência já tocava com sua propria banda em festas, clubes e nas rádios locais. Tania desenvolveu seu sons, paltados em estilos como jazz, samba, funky e bossa. A mistura personalisada de tais gêneros rendeu uma boa estréia com álbum Apresentamos lançado no Brasil em 1969. Não foi diferente com o seu segundo álbum, Olha Quem Chega lançado no Brasil em 1971, que é por sinal infinitamente mais bem produzido que o álbum de estreia, e foi esse o responsável por levar a carreira de Tania a patamares internacionais. Após um concerto na Australia o guitarrista Charlie Byrd ficou admirado pela música da cantora, e o encontro entre eles rendeu em um contrato com o selo americano Concord Records.

         Capa do álbum de estréia de Tania Maria lançado pelo selo brasilerio Continental em 1969

Capa do segundo ábum lançado em 1971 pelo gravadora subsidiada da EMI, Odeon


Muito conhecida tanto no EUA, quanto na Europa, Tania Maria gravou 25 álbuns (incluindo reedições) dentre eles os magníficos Piquant e Love Explosion (meus preferidos). Participou de grandes festivais de Jazz pelo mundo, entre eles, o aclamado Montreux Jazz Festival, ganhou indicações ao Grammy, e conquistou seu lugar ao sol na ingrata indústria da música, e o mais incrível de tudo: Não é conhecida como merece dentro de sua própria terra mãe.

 Curiosa capa da edição japonesa em vinil do álbum Piquant, lançado e distribuido pela etiqueta Concórdia em 1980

Love Explosion, álbum lançado em 1983 também pela etiqueta Concórdia

 É evidente que não dá pra conhecer todos os grandes artistas de um país tão grande e diversificado quanto o nossso, mas somos sempre tendenciosos a escutar música gringa, que acaba nos distanciando dos gênios nascidos aqui, nessa fábrica de talentos chamada Brasil. Por mais que não seja apresentada para as grandes massas com frequência, existe sim música brasileira de qualidade, muitas vezes, de qualidade até superior a o que temos por música internacional "boa". Um espírito curioso e uma pitada de bom gosto é o bastante para encontrar estes tesouros perdidos dentro de seu próprio baú, basta querer saber onde encontra-los.


segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Falando de Rock... Hoje: Deep Purple "MK III"

Falar do Deep Purple é como falar de 6 ou 7 bandas diferentes ao mesmo tempo, devido as constantes mudanças de formação e pelo período, nada pequeno, que a banda passou inativa. Devido a isso vou plantar a estaca nas duas fases da banda, que para mim, tiveram mais relevância em grau de inovações em relação ao que já era feito naquela época, época boa por sinal. À fase clássica da banda, aquela fase do single Smoke on the Water parece clichê e peculiar, na verdade é mesmo, mas ainda tem dada importância pois a maioria dos "fãs" ficam contentes em conhecer apenas este single ou apenas esta fase. Falando um pouco da bem conhecida fase II, a mais bem sucedida comercialmente, com Ian Gillan nos vocais, John Lord nas teclas, Richie Blackmore na guitarra... o Deep Purple mostrou-se original frente ao contexto atual, pois incorporava elementos de música erudita (principalmente pela formação clássica de John Lord) e blues rock ( o que era inevitável) ao seu som. Tal formação começou quando o chatíssimo Blackmore ficou insatisfeito com a sonoridade da banda, e teve a grande ideia de deixar o som mais elétrico o que traria certa novidade frente ao cenário atual de inovações. Ao tentar implementar uma cara nova a banda Blackmore e John Lord perceberam que o primeiro vocalista Rod Evans não acompanharia as mudanças, principalmente pelas raízes muito fixas ao blues.

Tal evento serviu como porta de entrada para o jovem Ian Gillan que era naquele momento a engrenagem que daria movimentação a maquina chamada Deep Purple! O som da banda se tornou envolvente e explosivo o que ficou muito claro no álbum In Rock, o primeiro dessa formação, que gerou boas críticas e arrecadou a primeira leva de fãs, o single Black Night, foi parar no segundo lugar das paradas britânicas, ficando por lá algumas semanas. O lançamento do segundo disco gerava boas expectativas na crítica especializada, expectativas que foram bem atendidas. O álbum veio com uma face mais experimental que o anterior, com grandes passagens puramente instrumentais, o que fez dele um álbum superior ao anterior. O ápice do sucesso dos britânicos do Deep Purple aconteceu com o lançamento do single inspirado por um incêndio de um cassino em Las Vegas, durante a preparação de um show de nada mais nada menos do que Frank Zappa, a música se chamou Smoke on the Water e foi lançada no álbum Machine Head, que por muitos é considerado o melhor álbum da banda. Até hoje nas performances ao vivo da atual formação, são tocadas ao menos 4 músicas da 7 contidas no álbum. 

O sucesso trouxe o estrelato, records e principalmente intrigas entre os membros da banda, principalmente entre Gillan e Blackmore, o que fez com que Gillan saísse em 1973. Tal fato foi doloroso para os fãs da época, doloroso porque nenhum deles sabia o que estava por vir. Pouco tempo após a saída de Gillan, Glen Hughes foi acoplado a banda, pois além de ser muito talentoso, resolvia dois problemas a saída do renomado vocalista e a saída do baixista Roger Glover. O problema estava resolvido, no entanto Richie Blackmore acariciava a ideia de colocar um outro vocalista paralelo a Hughes, ideia que resultou na contratação de David Coverdale. Estava montada o que pra mim foi e sempre será a melhor e mais completa formação do Deep Purple! O álbum Burn, tinha a base montada sobre a melhor de todas as sonoridades que já haviam sido exploradas nos álbuns anteriores, só que com as características vocais e arranjos instrumentais muito mais complexos. O entrosamento entre os Hughes e Coverdale era absolutamente incrível, inclusive ao vivo, e os revezamentos vocais entre os dois se tornaram marca registrada juntamente com a presença das teclas de Lord que se tornou absoluta, mas o melhor estava por vir, o álbum Strombringer foi o auge! 

O Deep Purple mergulhou de cabeça na influência do Soul (funky) apenas sugerida em Burn, o que trouxe ao álbum uma característica impar. Após a turnê de promoção do álbum o chatíssimo Blackmore ficou insatisfeito com o resultado dos dois últimos álbuns e decidiu sair da banda usando o seguinte argumento: "O Deep Purple é uma banda de rock, e não uma banda de soul.", argumento infantil. Será que tal fato pode ser explicado das teclas de Lord e os vocais de Hughes/Coverdale terem ofuscado o brilho do "líder"? De fato tal pergunta soa bem pertinente. Mais ainda bem que Blackmore saiu, pois sem isso, nós nunca teríamos conhecido a sua banda genial que tinha Ronnie James Dio nos vocais, a não tão popular Rainbow (muito boa banda por sinal, vou falar sobre ela no blog algum dia). Fato é que mesmo nesse pequeno fragmento da história do Deep Purple, pode-se perceber com clareza o papel desta banda para o heavy metal, hard rock e outras vertentes. Juntamente com o Black Sabbath e Led Zeppelin. o Deep Purple faz parte da "sopa primitiva" do rock pesado, escutar sua discografia é entender parte do caminho no qual o rock andou.








quarta-feira, 2 de outubro de 2013

O texto que ficou...


Salve salve! Este tempo sem postar resultou em algumas ideias, claro,  tanto tempo sem postar  não ter ideias seria, um tanto quanto, preocupante, para não dizer perturbador. E hoje estou lançando um novo quadro aqui no blog. Como eu já tinha dito logo no início, este blog fala principalmente de música, mas a arte aqui é o ponto central de onde as coisas partem, e quando sw fala de literatura, fala-se também de som, o som que sai das palavras escritas, e que ao invés dos ouvidos, ele entra pelos olhos e vai direto para a alma. Este novo quadro será publicado todas as Quartas, e seu nome é "O texto que ficou". Eu queria aproveitar a postagem para falar sobre outros quadros que irão estar funcionando e se iniciando aqui no blog. O quadro "Flando de Rock..." Continua, e será publicado periodicamente, todas as terças feiras. Estarei publicando também, as Sextas, o novo quadro "Os brasileiros que não vimos", no qual eu vou escrever um pouco sobre a carreira e as obras e notícias sobre músicos ou artistas brasileiros, que ainda não vimos ou que vimos ou que por ventura, esquecemos. Então por favor, fiquem  de olho! Mas falando do quadro atual... Eu sempre estou lendo, e ainda bem por isso, não sei o que seria de mim sem ler muito, e é exatamente por isso que eu resolvi criar esta postagem temática, para expor aqui o texto, poema, conto ou trexo, que me martelou minha cabeça durante toda semana. E para começar hoje estarei postando o texto que tem me perturbado a algum tempo. É um conto que além de gerar impacto (como toda a arte faz, ou ao menos, deveria fazer), ele promove uma reflexão, e é claro, a beleza dele é altamente contemplavel. Este texto está presente no livro de poemas de um célebre diretor de teatro alemão, Bertolt Brecht. Leia:

O Dragão da Lagoa Negra

Profundas são as águas da lagoa negra
E cor de chumbo. Dizem que um dragão sagrado
Mora aqui. Olhos humanos
Jamais o viram, mas próximo à lagoa
Construiu-se um santuário, e as autoridades
Organizaram um ritual. Um dragão
Pode continuar dragão, mas os homens
Podem fazer dele um deus. Os habitantes da aldeia
Veem boas e más colheitas
Nuvens de gafanhotos e comissões do governo
Impostos e pestes como desígnios do dragão sagrado.
Todos sacrificam a ele
Pequenos leitões e jarras de vinho, segundo os conselhos
De um deles, que possui poderes.
Ele determina também as orações da manhã
E os hinos do fim da tarde.
Salve, ó Dragão de muitas dádivas!
Bem-aventurado sejas, Vencedor
Salvador da pátria, és
Eleito entre os dragões, e eleito é
Entre todos os vinhos o vinho do sacrifício.
Há pedaços de carne nas pedras em volta da lagoa.
A grama diante do santuário está manchada de vinho.
Não sei quanto de suas dádivas
O dragão come. Mas os ratos dos arbustos
E as raposas dos montes estão sempre bêbados e fartos.
Por que estão assim felizes as raposas?
Que fizeram os pequenos leitões
Para que sejam mortos ano após ano, somente
Para agradar às raposas? O dragão sagrado
Na profundeza mil vezes escura de sua lagoa
Sabe ele que as raposas o roubam, e comem seus pequenos leitões?
Ou não sabe?

Poemas 1913-1956 , Bertolt Brecht 

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Falando de Rock... Hoje: Black Sabbath

Salve salve! Depois de um longo período de silênico retorno das cinzas postando algumas coisas nada interesssantes [risos]. Voltando a escrever pensei em fazer uma série chamada "Falando de Rock..." onde eu vou comentar sobre bandas de rock que exerceram grande influência na música do século XX, vou começar pelos britânicos do Black Sabbath. Há quem diga que a semente de um dos gêneros mais populares do rock surgiu com o lançamento do single Purple Haze quando Jimi Hendrix foi além da transição blues/rock e sugeriu o que depois de algumas evoluções e lapidações seria chamado de Heavy Metal. Se tal estilo existe, deve-se muito ao som pesado, sujo e distorcido dos gênios do Black Sabbath. As guitarras pesadas de Tommy Iommi, o baixo bem marcado e presente de Geezer Blutler, juntamente com à constância rítmica de Bill Ward somada ao timbre exótico de Ozzy Osbourne formaram algo absolutamente incomum para a época, uma espécie de "blues do mal" que alucinava a atual geração britânica com sede de inovações. A utilização dos evitados trítonos ( intervalos de 4ª aumentada (#4) ou 5ª diminuta (b5).) era implementada de forma comum o que dava ainda mais peso e consistência ao som da banda, as letras sombrias do primeiro álbum também agiram como um agente promocional e criador de polêmicas, o que fez com que a banda ganhasse o ignorante e mal empregado título de "satânica". 

Os álbuns seguintes foram berço de muitas ideais, que seriam re-aproveitadas por outras bandas em outras épocas, inclusive nos dias atuais. Quem vai esquecer do riff louco da música Iron Man do álbum Paranoid? Ou da experimental afinação de guitarra e baixo em C# no álbum Master of Reality? Quando se apagará a profundidade da balada Changes presente no álbum Vol.4 ou a exatidão do single Sabbath Bloody Sabbath que encabeça este álbum mágico? Após a saída de Ozzy no final da turnê de promoção do álbum amado e odiado Never Say Die!, muitos fã deram por terminado o período de glória da banda, o que de fato não aconteceu mesmo após a mudança de sonoridade ocasionada pela chegada do genial vocalista Ronnie James Dio. O que seria do rock sem os álbuns Heaven and Hell e Mobs of Rules? De fato Dio levou o Sabbath a um plano diferente, nem superior nem inferior, apenas diferente. 

Apesar de Dio não ter continuado por muito tempo, e não ter gravado muitos álbuns, sua estada no Sabbath foi importante, sem ele, as sonoridades exploradas durante sua passagem nunca teriam existido. Após a saída de Dio, Bluter e Iommi se viram sem vocalista, e o escolhido para tal função foi o já bem conhecido Ian Gillan, do Deep Purple. Por mais que muitos fãs e críticos musicais considerem o álbum um dos maiores equívocos do rock, eu considero-o no mínimo próprio e original, por mais que a sonoridade não seja tão fácil de ser absorvida como nos álbuns anteriores, tanto os da era Ozzy, como os da era Dio. Fato é, que até a passagem de Tony Martin com todo o drama de um vocalista de Love Metal e seus agudos e gritos que só funcionavam no estúdio não foi totalmente descartável, ao menos para mim. A passagem relâmpago de Glen Hughes durante o álbum Seventh Star não deu tanta margem para se definir ou classificar, não foi um álbum muito ouvido e nem elogiado por fãs ou pela crítica, da mesma forma que não foi tão oprimido, um álbum quase nulo, infelizmente, pois Hughes é um cantor estupendo e um grande músico e baixista, que aliais, teve uma fenomenal passagem nas épocas mais nobres do Deep Purple (assunto do próximo post). De certa forma o Black Sabbath é uma banda que ainda nos dias de hoje deve ter sua discografia muito ouvida e estudada pela sua importância na história do rock e na forma de como as ideias musicais gerais são acopladas a ele. 

Felizmente o legado do Sabbath ainda não acabou, a volta de Ozzy e a gravação do álbum 13 que acabou de sair do forno, gerou grandes esperanças na crítica e em nós fãs é claro. Tudo leva a crer que ainda tem-se muito a extrair desses mestres do rock, muito se espera da turnê de promoção do álbum, que por coincidência passará pelo Brasil!

 

terça-feira, 12 de março de 2013

System of a Down; Album: Mezmerize




















Artista: System of a Down

Album: Mezmerize

Gênero: Rock Alternativo, Heavy Metal

Ano: 2005



Depois de um longo período de silêncio volto a postar nesse espaço dedicado a arte do som. Quase um mês se passou desde a ultima postagem  e nesse curto espaço de tempo as ideias estavam "fervilhando" em minha cabeça, e foi nessa brainstorm que eu decidi postar aqui pela primeira vez um rock. Pensei em tudo que eu já tinha ouvido, desde o saudosismo das bandas clássicas dos anos 70 até as experimentações alucinantes e barulhentas das bandas de Metal Industrial, pensei ainda, em postar algo mais oculto que trouxesse a escuridão das harmonias menores, até que em algum momento dessa viajem sobre bandas e seus respectivos sons me ocorreu uma ideia: "Que tal falar sobre uma banda que reúna isso tudo ? " o primeiro nome que me veio foi o da banda armeno-america System Of a Down. 


Meu primeiro contato com esta banda foi no ano de 2004 na casa dos meus primos, não me lembro ao certo qual música escutei primeiro mas com certeza era o álbum Toxicity cujo o cd original na época, era algo que custava um bom dinheiro, minha mesada não cobria todo o valor [risos]. Lembro de ficar perplexo com a velocidade do baterista John Dolmayan e com a imponência do timbre exótico de Serj Takian. O mais interessante é que eu só fui conseguir pesquisar efetivamente a discografia da banda 2 anos depois, em 2006 quando eu enfim tinha acesso a internet e podia baixar os álbuns, escutei em um mesmo dia toda a discografia, desde o primeiro até o ultimo álbum sem parar, esse foi o dia em que me tornei admirador do trabalho desses músicos de descendência armena, e o álbum que foi divisor de águas neste processo foi sem dúvidas o genial Mezmerize.


Esse álbum já começa de forma pouco convencional, a primeira canção "Soldier Side - Intro" é um pequeno tema que serviria de base para a construção de toda uma canção que veio a ser lançada no álbum seguinte com o mesmo nome (sem o "Intro"), essa pequena prévia deixa claro um fato, que ao meu ver é uma das sacadas mais impressionantes do som do System e que talvez as pessoas não percebam tanto, a divergência entre os timbres das vozes de Serj Takian e Daron Malakian é incrível e ainda sim combinação é tão perfeita que maioria das pessoas não percebe o exotismo e a diferença existente entre o timbre dos dois, essa simbiose é encontrada no decorrer de todo o álbum. A faixa seguinte é o que pra mim é uma das maiores obras de arte criadas no rock das duas ultimas décadas: A magnífica "B.Y.O.B", a influência do se entrega na primeira frase com um super vocal gutural, no decorrer da música se sente claramente em alguns pontos chaves a admitida (pela própria banda) influência que Frank Zappa exerceu sobre o som deles, aquele vocalize louco antes do refrão dobrando com a guitarra base parece cortado de um album do Zappa e colado com uma dose extra de orverdrive, os backings a bateria e a aventura do contrabaixo pelos loucos andamentos fazem dessa canção uma das obras mais inovadoras que apareceram no rock dos últimos anos. 


O álbum se segue, as guitarras pesadas em andamentos tortuosos se fundindo-se com os vocais intercalados somado  a bateria agressiva utiliza-se muito da técnica"Blast Beat" ( o que mostra uma influência do Trash Metal, mesmo que de longe)  junto o baixo quase sempre sincopado continua arquitetando todo o álbum. Na faixa 3 chamada "Revenga"  os armenos atacam com uma carta na mangá que já foi registrada em B.Y.O.B: Sair de um momento agitado e totalmente estressante e cair em uma melodia que transmite paz total até que de uma hora para a outra esse momento estressante volte com o dobro da força anterior, tais progressões são feitas o tempo todo, e o mais absurdo: Não ferem em momento nenhum a linha do bom gosto! Outra canção desse álbum que merece total destaque é a faixa 8 chamada "Question" que começa com uma introdução bem "folk" tocada no violão que já abre as portas para a guitarra pesada que entra em seguir "chamando" os outros instrumentos e os vocais, talvez "Question" seja a faixa mais progressiva do álbum, destaque para a percussão de muito bom gosto que soa leve por trás da estrofe que leva a poética letra: 

"Doces frutos pronto para dois
Fantasmas não são diferentes de você.  
Fantasmas estão esperando agora por todos vocês 
Você está?"


Da primeira música até a penúltima as variações entre os sentimentos de raiva e paz foi o campo fertil no qual as demais ideias foram plantadas, é extremamente importante analisar a forma na qual esse álbum termina, "Lost In Hollywood"  é a faixa final, um lindo canto  em que tudo é calmo, um coral canta junto com a banda conforme o fim se aproxima até todos os backings sumirem e Doran cantar a frase final quase acappella: "Você nunca deveria ter confiado em Hollywood" frase de efeito que mostra o que  de melhor a banda sabe fazer em suas letras, pertinentes críticas a EUA, guerras, alienação, capitalismo, fome, entre muitos outros. Mezmerize é um álbum completo em todos os sentidos, com certeza é o álbum em que a banda está no seu auge criativo, tudo fluiu bem aqui, álbum indispensável para quem gosta de rock ou deseja começar a escutá-lo, se você procura um som alternativo proveniente de influências distintas, letras que criticam os problemas e crises do mundo atual, e rock que saia da mesmice Mezmirize é o seu álbum!


sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Djavan; Album: Meu Lado




















Artista: Djavan

Album: Meu Lado

Gênero: MPB, Samba

Ano: 1986

 

 

Mesmo com um dia de atraso estou eu aqui de novo postando. O album de hoje é o tipo do trabalho que considero obrigatorio na coleção de canções de qualquer músico brasileiro, e até pra quem não é da Ilha de Vera Cruz eu já aconselhei esse album algumas vezes. Meu primeiro contato efetivo com a música de Djavan foi na internet quando assistia alguns videos e me deparei em um deles com a música Oceano, que despertou meu interesse pela discografia desse grande compositor. 

 

 

O ano era 1986, o plano Cruzado entra em vigor, o atual presidente José Sarney implanta a Lei do Incentivo a Cultura, e nesse contexto social de mudanças que Djavan decide lançar o album Meu Lado, sem dúvida um dos melhores albuns da história da MPB. Este grande mestre de nossa música já tinha total respeito nesta época, tanto no Brasil quanto fora dele, albuns como Djavan 78 e Seduzir foram responsaveis por torna-lo famoso no Brasil e em muitos outros cantos do mundo, principalmente no EUA. O album começa com um samba melodicamente complexo chamado "Beiral", cheio de mundanças inconstantes na melodia. As pontes melódicas sempre foram característica marcante do som do cantor, nesta obra elas já aparecem  na primeira faixa.

 

 

O album continua e o nivel de complexidade melódica não cai nas faixas seguintes, vale a pena destacar a orquestração nada previsível que entra no refrão da segunda faixa chamada "Segredo". Os arranjos instrumentais feitos por Djavan nesse album são inovadores se comparados com os arranjos escritos na MPB dessa época, a maior prova disso é a próxima música, a animada "Romance" que começa com um violão sicopado sendo acompanhado por um acordeon no contra tempo, inusitada e ousada combinação, mas a coisa não para por aí, logo no refrão entra um triângulo marcando fortemente o rítmo dando uma cadência contagiante.

 

 

Mas talvez o ponto alto desse album seja na impressionante  "Asa" faixa 6 do album. Nessa faixa Djavan faz a incrível fusão entre a MPB e uma pegada black, que pelo uso dos metais lembra um pouco o Soul Music. Tudo é perfeito em Asa: O violão cheio de personalidade, o uso dos nipes de metais, a linha do contrabaixo, a voz e as pontes melódica, canção  linda demais. Essa obra é de fato magnífica, desde o começo até o seu fim, fim esse, que merece toda a atenção de quem escuta todo o album pela primeira vez, é aqui que vem a maior surpresa do album, duas músicas tipicamente africanas, que mostram a devoção do compositor a arte e cultura da terra mãe da humanidade.

 

 

Meu Lado é um album completo em todos os sentidos, o talento e versatilidade de Djavan ficam evidêntes nesta obra desde a primeira composição. Este trabalho  desempenha papel fundamental na discografia do cantor, servindo como um  "retorno as origens" sambísticas do mestre. Indispensável para qualquer amante da composicao popular do país, um trabalho genuinamente brasileiro e genialmente original. Para aqueles que assim como eu amam a MPB este trabalho é e sempre será uma ótima pedida.



segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

The Carpenter; Album: Ticket to Ride



















 

Artista: The Carpenters

Album: Ticket to Ride

Gênero: Easy Listening, Adult Comtemporary, Jazz

Ano: 1969

 

 

Esse album era o gênese da sequência de coisas lindas que viriam a seguir, começava aqui uma discografia brilhante, e talvez, uma das discografias mais sentimentais produzidas até hoje. Meu primeiro contato com a música desse duo foi no carro do meu irmão (grande músico por sinal) onde ouvi a canção "This Masquerade" que eu ja conhecia muito bem só que na voz e na guitarra de George Benson.  

 

 

Este duo vocal/instrumental  americano, despontou no final da década de 60 e o album  citado na postagem foi o primeiro de 14, incluindo edições comemorativas e compilações. No decorrer da década de 70 o advento do rock se tornou esmagador na indústria musical, ainda sim, os Carpenters desenvolveram um estilo calmo, que os consagrou entre os músicos que mais venderam em toda história. A vida e música dos irmãos Carpenters rendeu até uma produção cinematográfica, que teve audiência considerável na época em que foi lançada (1989), sendo bem recebido inclusive pela crítica especializada.



Está obra já se torna extremamente interessante logo quando começa, a primeira faixa  chamada-se "Invocation", uma faixa totalmente acappella em que Karen e Richard formam um grande coro (todas as vozes), com a harmonização se utilizando das regras da harmonia tradicional, coisa linda que remete o ouvinte aos grandes coros de Bach. Outro fato interessante a ser analisado no disco é que com exceção das místicas orquestrações, todos os vocais, backings vocais e instrumentos são tocados por Karen e Richard, o que deixa explícito o talento dos irmãos. O nome do album é uma homenagem aos artistas que influenciaram quase tudo que veio depois deles: The Beatles! A música que dá titulo ao album é da dupla Lennon/McCartney e foi vestida em um belo arranjo escrito por Richard, a canção é a faixa 7 do album. Vale a pena destacar também um Jazz elétrico interpretado pelos irmãos na faixa chamada "All Can I Do" onde os vocais angelicais de Karen tomam uma roupagem mas densa, lembrando mesmo que de longe as divas do jazz dos 60.



De uma forma geral este album é fenomenal. As letras são poéticas e filosóficas escritas por John Bettis cairam como ótimas legendas para as composições dos irmãos Carpenters. As orquestrações escritas por Richard se tornaram marca registrada nos albuns que viriam a seguir, servindo de referência para muitos outros arranjadores que viriam depois. Album indispensável para qualquer cantor, compositor ou até mesmo para quem não é músico. Se você procura lindas músicas, lindos vocais, lindas orquestrações e belíssimas letras, este é o album certo para você.


 

 

 

 

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Jane Duboc & José Tobias; Album: Acalantos Brasileiros

Jane Duboc & José Tobias; Album: Acalantos Brasileiros

 

 

 

Artista: Jane Duboc & José Tobias

Album: Acalantos Brasileiros

Gênero: MPB, Infantil, Folclórico 

Ano: 1978

 

 

Sabe aquele artista ou banda que você ouve falar mas não vai atrás por algum motivo ? Foi exatamente o meu caso com a cantora Jane Duboc. Meu primeiro contato com ela foi quando a mesma deu um depoimento no programa Instrumental Sesc Brasil que passa todos os dias no canal  Sesc TV (recomendo inclusive). A primeira vez que vi essa cantora fabulosa em atuação foi em uma canção na qual ela cantava um tema ao lado do genial compositor Hermeto Pascoal, foi quando me interessei em buscar a discografia dela.

 

 

Fui escutando os albuns e me deparei com o que para mim seria um retorno a emoções nas quais eu nem se quer me lembrava: A emoção de escutar aquelas canções folclóricas que as mães cantam para embalar o sono de seus filhos. Confesso que chorar foi inevitavel [risos] frente as lindas melodias dos acalantos cantados por Jane Duboc nesse album.



Outra coisa que me despertou atenção ao escutar este album, foram os arranjos escritos por José Tobias, músico no qual eu infelizmente não achei muita coisa durante as minhas pesquisas, mas que com certeza ganhou meu respeito total ao escrever lindos arranjos de cordas, sopros e violão para o Acalantos Brasilerios, principalmente na faixa final do album, um lindo canto chamado "Murucututu", que lembra bastante as canções dos povos que moram no médio São Francisco, escritas em dois livros que eu pretendo resenhar em breve.

 

 

De uma forma geral o album Acalantos Brasileiros é um trabalho verde amarelo por inteiro , em todos os sentidos, a cultura nacional é valorizada como ideia central e isso é facilmente percebido enquanto se escuta esta obra. Este album prova que a cultura e o folclore brasileiro são ricos, e com uma pitada de bom gosto podem ser incorporados à música com muito sucesso, viva a espetacular cultura do Brasil viva a nossa música!

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Este Blog...

Este é o lugar, o lugar onde estarei publicando perspectivas pessoais e opiniões sobre alguns dos albuns que ouvi, ou talvez alguns documetários, musicais, operas, livros, filmes, shows, ou qualquer outro tipo de coisa relacionada a primeira arte. Em breve começarão as postagens, que não serão escritas apenas por mim, mas também, por alguns amigos que foram loucos o bastante para colaborarem com este projeto [risos]. Esse blog não tem apenas o objetivo de falar e debater sobre música, mas também poderá servir de norte para alguém que esteja procurando algo novo para escutar, alguém que porventura queira conhecer mais sobre algum artista ou gênero, , ou ainda, apenas servir de passa tempo para alguem que está à toa na internet e não sabe o que vai ver. Este portal não ficará de forma alguma, restrito a um só gênero, artista ou estilo músical, a arte musical é viva e dinâmica e eu como seu amante cometeria um crime brutal em rete-la a uma ou duas de suas manifestações estilisticas. Aqui as muitas faces dessa arte serão mostradas sem qualquer tipo de preconceitos, como disse certa vez o genial cientista Albert Einstein: "É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito." e com toda certeza, essa dificil missão também é um objetivo desse blog. Sejam todos muito bem vindos e que este não seja mais um blog falando sobre música, mas que sobre tudo posssa ser um lugar onde a acima de tudo: A música e a arte serão exaltadas como o climax da emoção humana.