"Se a música é o alimento do amor não parem de tocar. Dêem-me música em excesso; tanta que, depois de saciar, mate de náusea o apetite."
William Shakespeare

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

O texto que ficou...


Salve salve! Este tempo sem postar resultou em algumas ideias, claro,  tanto tempo sem postar  não ter ideias seria, um tanto quanto, preocupante, para não dizer perturbador. E hoje estou lançando um novo quadro aqui no blog. Como eu já tinha dito logo no início, este blog fala principalmente de música, mas a arte aqui é o ponto central de onde as coisas partem, e quando sw fala de literatura, fala-se também de som, o som que sai das palavras escritas, e que ao invés dos ouvidos, ele entra pelos olhos e vai direto para a alma. Este novo quadro será publicado todas as Quartas, e seu nome é "O texto que ficou". Eu queria aproveitar a postagem para falar sobre outros quadros que irão estar funcionando e se iniciando aqui no blog. O quadro "Flando de Rock..." Continua, e será publicado periodicamente, todas as terças feiras. Estarei publicando também, as Sextas, o novo quadro "Os brasileiros que não vimos", no qual eu vou escrever um pouco sobre a carreira e as obras e notícias sobre músicos ou artistas brasileiros, que ainda não vimos ou que vimos ou que por ventura, esquecemos. Então por favor, fiquem  de olho! Mas falando do quadro atual... Eu sempre estou lendo, e ainda bem por isso, não sei o que seria de mim sem ler muito, e é exatamente por isso que eu resolvi criar esta postagem temática, para expor aqui o texto, poema, conto ou trexo, que me martelou minha cabeça durante toda semana. E para começar hoje estarei postando o texto que tem me perturbado a algum tempo. É um conto que além de gerar impacto (como toda a arte faz, ou ao menos, deveria fazer), ele promove uma reflexão, e é claro, a beleza dele é altamente contemplavel. Este texto está presente no livro de poemas de um célebre diretor de teatro alemão, Bertolt Brecht. Leia:

O Dragão da Lagoa Negra

Profundas são as águas da lagoa negra
E cor de chumbo. Dizem que um dragão sagrado
Mora aqui. Olhos humanos
Jamais o viram, mas próximo à lagoa
Construiu-se um santuário, e as autoridades
Organizaram um ritual. Um dragão
Pode continuar dragão, mas os homens
Podem fazer dele um deus. Os habitantes da aldeia
Veem boas e más colheitas
Nuvens de gafanhotos e comissões do governo
Impostos e pestes como desígnios do dragão sagrado.
Todos sacrificam a ele
Pequenos leitões e jarras de vinho, segundo os conselhos
De um deles, que possui poderes.
Ele determina também as orações da manhã
E os hinos do fim da tarde.
Salve, ó Dragão de muitas dádivas!
Bem-aventurado sejas, Vencedor
Salvador da pátria, és
Eleito entre os dragões, e eleito é
Entre todos os vinhos o vinho do sacrifício.
Há pedaços de carne nas pedras em volta da lagoa.
A grama diante do santuário está manchada de vinho.
Não sei quanto de suas dádivas
O dragão come. Mas os ratos dos arbustos
E as raposas dos montes estão sempre bêbados e fartos.
Por que estão assim felizes as raposas?
Que fizeram os pequenos leitões
Para que sejam mortos ano após ano, somente
Para agradar às raposas? O dragão sagrado
Na profundeza mil vezes escura de sua lagoa
Sabe ele que as raposas o roubam, e comem seus pequenos leitões?
Ou não sabe?

Poemas 1913-1956 , Bertolt Brecht